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sexta-feira, 23 de março de 2012

A Locomotiva e as Margaridas

Lá vinha ela, majestosa sobre os trilhos contornando a curva, cruzando o belo campo de margaridas e avisando sua chegada. Ao lado desta bela paisagem havia uma casa humilde com uma jovem senhora e seu filho, sempre que a locomotiva passava o menino se aproximava dos trilhos e corria o máximo que podia ao lado dela, como se fosse capaz de superá-la. Após a passagem da locomotiva ele pegava uma margarida e dava para sua mãe e dizia: Será que um dia serei mais veloz que ela?

Alguns anos se passaram e essa cena do menino se repetia sempre, enquanto sua mãe o observava da varanda. Agora o pequeno menino havia se transformado em um forte rapaz e estava enfrentando um grande dilema, por estar em tempos de guerra ele havia sido convocado. Sua mãe lhe suplicava que não fosse, pois ele era a única família que restará para ela. Mas como não tinha escolha ele teve que ir, e no dia de sua partida ele pegou suas malas e foi com sua mãe até a estação que era a poucos metros da sua casa, se despediu dela dando-lhe um beijo na testa e lhe entregou uma margarida e prometeu que em breve voltaria.

A locomotiva chegou ele embarcou e a mãe muito emocionada ficou na estação observando a partida se seu filho até que perdesse de vista o trem, sentia um aperto no peito e temia que seu filho não voltasse com vida. Voltou para casa pensando que aquela mesma máquina tão soberana e majestosa que fez parte das suas vidas, agora estava levando simplesmente tudo que ela tinha de mais precioso.

No campo de batalha o rapaz estava se saindo bem, aprendeu rápido a manejar as armas e sua coragem era admirada por todos os seus companheiros. Todo mês enviava uma carta para sua mãe e lhe dizia que estava morrendo de saudades e que em breve voltaria e está não via a hora de seu regresso.

Agora já havia mais de 1 ano que aquele rapaz estava longe de casa, mas todos os dias quando se aproximava a locomotiva sua mãe corria até a varanda na esperança que ela trouxesse seu filho novamente. Naquele mês ela não havia recebido nenhuma carta e já estava muito aflita com aquela situação e temia que seu filho pudesse estar ferido.

Certo dia alguém estava batendo a sua porta e ao abrir ela se derramou em lágrimas, pois percebeu que se tratava de alguém fardado e sabia que este não lhe traria boas notícias. Aquele rapaz abraçou-a e explicou que há alguns meses o grupo do qual o filho dela fazia parte encontrava-se em uma missão distante quando foram atacados e nenhum deles havia sobrevivido. Ela perguntou para ele onde estava o corpo do seu filho para que ela pudesse vê-lo pela última vez e ele lhe explicou que infelizmente o corpo não havia sido encontrado e que por isso demoraram tanto para comunicá-la.

Ela estava desconsolada, sentia que não tinha mais motivos para viver e vivia dia após dia definhando mais e mais. Mas o seu coração nutria uma esperança, pois sempre que a locomotiva passava ela corria até a varanda e pensava: Será que meu filho está voltando?

Certa manhã de sábado o sol estava lindo, as margaridas mais floridas do que nunca e ela não saiu para ver a passagem da locomotiva, estava indisposta e não sentia vontade nem de sair da cama. De repente alguém bateu a sua porta, quem seria? Já havia dias que não via ninguém e também não fazia questão. Mas mesmo assim se levantou e foi até lá. Qual não seria sua surpresa ao abrir a porta e se deparar com seu filho, parecia um sonho. Seu filho amado havia retornado para casa. Estava acompanhado de outro rapaz que lhe disse que o encontrou caído perto de algumas pedras com a cabeça ferida e que cuidou dele durante esse tempo. Disse para ela que a pancada havia causado uma amnésia (Amnésia anterógrada: o indivíduo lembra-se de algumas situações do passado e esquece tudo que ocorreu após o trauma ) por isso não sabia explicar quem ele era, onde morava e nem o que havia acontecido no campo de batalha, mas sempre se lembrava de uma locomotiva, margaridas e de uma casinha com uma mulher na varanda. Aquele bondoso rapaz que havia ajudado seu filho também lhe contou que já fazia um bom tempo que ele procurava a família daquele rapaz, mas como ele não se lembrava de onde era isso complicou muito sua busca. Mas ao passarem de trem por ali ele disse: Essa é minha casa. Imediatamente desceram na estação e quando ele viu as margaridas e a casa ele soube que realmente aquele era o lar daquele rapaz.

Assim é a vida, tomamos inúmeras locomotivas que nos levam para longe daqueles que amamos buscando novos horizontes e enfrentando verdadeiras guerras que nos machucam muito. Ás vezes a Saudade é injusta, mas mesmo feridos e confusos podemos esquecer de tudo, menos do caminho de casa pois sabemos que lá estaremos seguros e junto daqueles que amamos. Por isso não deixe a saudade lhe fazer sofrer, pois quando menos esperar a locomotiva da vida o levará de volta aos braços daqueles que também sofrem com sua ausência.






*Esse texto é dedicado a minha família que apesar de estar longe, estão presentes no meu coração. Amo vcs!!!! Qualquer dia apareço por aí. CUIDEM DO NOSSO PETISCO! rsrsrsrsrsrs

9 comentários:

  1. Nossa que história linda!!!!
    Até chorei no fim, muito profunda suas palavras.
    já to anciosa pelo próximo texto, vou divulgar seu blog!!!!!!!!!

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  2. Pq não escreve um texto com história parecidas com as brasileiras?
    Seria interessante ver sua visão mais irreverente como no primeiro texto. O que acha?????
    Se resolver escrever ela poderia morar em jaboticabal em minha homenagem já que dei a idéia. rsrsrsrsrsrs
    Mais uma vez parabéns!!!!!!!

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  3. No dia que sai de casa minha mãe me disse filho vem cá passou a mão em meus cabelos olhou em meus olhos e começou a falar. rsrsrsrs
    É amigo legal história mais muitas vezes na vida a referida "locomotiva" não retorna e temos que aprender que na vida nem sempre as coisas acabam do jeito que gostaríamos oque é uma pena. Sua locomotiva tem a significação familiar porém ela também pode ser um objetivo ou uma meta, sua história está em sincronia com a outra a fila dos desesperados é isso ai até mais.

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  4. Boa tarde Paty aceito o desafio. Em breve farei alguns textos cômicos sim e posso fazer alguns especiais contando histórias de outras brasileiras sim inclusive Areal que é minha cidade Natal. E farei um sobre uma do jaboticabal pode deixar, to pensando em fazer 7 textos para ir postando 1 a cada dia durante uma semana que estarei me dedicando só pra isso.

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  5. Oi michel acho que vc está com uma visão um pouco pessimista, lembra do pensamento positivo? De uma lida nesse texto. E o outro texto da fila dos desesperados vc sabe muito bem pra quem é e não é para mim não(pode até ter algumas coisas inconscientes minhas sim, mas dediquei pra outra pessoa). Mas obrigado por expressar sua opinião.

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  6. Não sei se você soube intepretar corretamente meu comentário rsrsrsrs.
    A vida passa por vários momentos difíceis realmente, e muitas vezes temos que superalos, não podemos nos acomodar pois isto é pessimismo sim mais oque quero dizer é que não devemos nos frustrar em situações onde as coisas não saem como gostariamos, na psicologia comportamental aprende-se que estas operações estabelecedoras reforçam os pensamentos e necessidades profundas do nosso ambiente.

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  7. Muito da hora esse texto.
    conheci o blog através dele, com certeza esse será uma de suas obra primas pq geral ta comentando. Sucesso!

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  8. Com certeza uma obra prima, linda história que nos faz refletir sobre muitas coisas importantes e que acabamos não valorizando...

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  9. Linda história, muito interessante!
    Porque não amadurece a idéia de fazer um livro com esse tema?
    Realmente essa história é tudo de bom!!!
    Parabéns!!!

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